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terça-feira, janeiro 24, 2006

Português Falado: emprego dos dois futuros

A futuridade em português (conceito que abrange todos os mecanismos linguísticos de que uma língua se serve para exprimir uma situação futura, isto é, uma situação posterior ao momento de enunciação) é expressa de diversas formas. A nível dos tempos verbais é usado o futuro simples, nas formas sintética (farei) e analítica (ir + infinitivo: vou fazer), o futuro composto (terei feito) e o presente (faço) como formas de expressão de futuridade. Existem, no entanto, outros mecanismos também eles frequentes como marcas de futuridade, como por exemplo as construções perifrásticas do tipo haver de + infinitivo ou ter de/que + infinitivo e os advérbios de tempo (amanhã, depois) acompanhados por verbos no presente do indicativo.
No português falado, como comprova o estudo de Sabine Eckhoff em 1983 (Die Ausdrücksmöglichkeiten des Futurs in der brasilianischen Gegenwartssprache anhand von Film- und Bühnentexten, tese de final de curso inédita), é usado com grande frequência o presente como forma de expressão de futuro, auxiliado na maioria das vezes por elementos quer contextuais quer lexicais (Amanhã leio o livro). O presente com a “função” de futuro é também usado em situações nas quais a ocorrência dos factos futuros é certa e o falante não tem dúvidas da sua realização. Diz-se Faço anos em Agosto e não Farei anos em Agosto ou Vou fazer anos em Agosto.
No que se refere às formas sintética e analítica do futuro, Sabine Eckhoff, assim como Friedrich Irmen (1993: "A temporalidade dos tempos verbais em português: o futuro”), comprovam que no português falado as formas analíticas (... eu muitas vezes penso: isso vai custar...; ... vou dar uma volta...vou almoçar e depois torno a vir...) são muito mais frequentes que as sintéticas (... e, e ele viverá a sua vida, quer dizer isso custará muito até pela educação que as pessoas tiveram...) [exemplos retirados do Corpus de Referência do Português Contemporâneo].
É importante referir que as formas sintética e analítica não são 100% substituíveis e equiparáveis, isto porque a elas está associada uma diferença epistemológica e semântico-pragmática. Enquanto que a forma analítica exprime uma maior certeza em relação à realização dos factos enunciados, a forma sintética evidencia um grau de incerteza mais elevado, associado, consequentemente, a uma maior suposição. Esta diferença aponta para um outro aspecto relacionado directamente com as formas de expressão do futuro – a questão da modalidade, ou seja a atitude e opinião do falante perante determinado acontecimento, mais concretamente a forma como essa atitude e opinião é gramaticalizada. Em relação ao futuro, Mira Mateus et al. (2003: Gramática da Língua Portuguesa) afirma:
“O Futuro Simples raramente expressa tempo posterior ao tempo da enunciação. De facto, é tendencialmente, mais próximo de um modo do que de um tempo. Em português europeu a posterioridade é fundamentalmente dada pelo Presente do Indicativo com o contributo de adverbiais de tempo de projecção futura ou então pela construção ir + infinitivo.” (p. 158)
As construções perifrásticas do tipo haver de + infinitivo (raramente usada no português do Brasil) e ter de/que + infinitivo tão frequentes no português falado, além de localizarem temporalmente um acontecimento no futuro, estão intimamente associadas a um carácter modal, por exemplo de obrigação. Enquanto que ter de/que + infinitivo evidencia uma obrigação imposta pelo exterior (... tenho que me enervar...; tens de contar), em haver de + infinitivo a obrigação é imposta interiormente, pelo próprio indivíduo (... eles não sabem o que nos hão-de chamar...) [exemplos retirados do Corpus de Referência do Português Contemporâneo].

Texto de Vera Ferreira (Protocolo do seminário "Português Falado", do dia 09.01.06. Para mais informações consultar seminário - 09.01.06 em
portuguesfalado.com.sapo.pt)

1 Comments:

Anonymous Domiciano Santos said...

Oi,
gostaria que fosse bordado o tema do emprego dos artigos definidos antes do nome próprio. Aqui no Brasil a maioria dos estados do Nordeste suprime o artigo, enquanto no Norte, de onde provenho (sou de Belém, mantemos o artigo. Assim no Sul do país.E em Portugal? Caso o tema já tenha sido discutido, mandem-me a ligação, por favor.

6:09 da tarde  

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