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terça-feira, dezembro 13, 2005

Posição do adjetivo e concordância nominal no sintagma nominal em Português

Este post tem como objetivo descrever, embora resumidamente, o posicionamento do adjetivo e o uso da concordância nominal no português falado (diferenciando-se aqui entre o português europeu e o brasileiro), comparando-os com as regras gramaticais existentes.
Segundo Cunha e Cintra (1986: 247), o adjetivo funciona como um “modificador do substantivo”, tendo como tarefas principais:
a) a caracterização de seres vivos, objetos, entre outros;
b) expressando qualidade, defeito, aspecto, aparência.

Exemplo: “casa bonita”, “homem malvado”, “pessoa inteligente”.

Adjetivos também podem ser usados para estabelecer uma relação de tempo com o substantivo (ex.: “prova bimestral”), ou para estabelecer uma relação de proveniência (ex.: “vinho português”).
As palavras de uma língua organizam-se em grupos em uma determinada frase. Esses grupos denominam-se “Sintagmas Nominais”. Eles são compostos por pelo menos um substantivo ou pronome, podendo ser ampliados, por exemplo, por meio do acréscimo de um artigo ou adjetivo:

Exemplo: “a casa” – “a casa bonita”.

Todo o sintagma nominal tem um núcleo, que pode ser um substantivo ou um pronome. Num sintagma nominal da língua portuguesa, o adjetivo pode vir anteposto ou posposto ao núcleo. Se anteposto, o adjetivo expressa afetividade, destaca ou realça uma característica, adquire valor subjetivo. Cunha e Cintra (1986) dão uma lista de regras para a anteposição do adjetivo.
A posposição é a mais utilizada no português. Segundo Gärtner (1996), o adjetivo posposto ao substantivo pressupõe a existência de um grupo de indivíduos representados por um substantivo, cujo número de representantes é reduzido pela utilização de um adjetivo pósposto. Por exemplo: “moça” – “moça bonita” (todas as outras moças, que não são bonitas, não fazem parte do grupo designado por “bonita”). Cunha e Cintra (1986) apresentam igualmente uma lista de regras sobre quando usar o adjetivo posposto.

Não se pode fazer qualquer declaração sobre a posição do adjetivo no português falado, pois não existe nenhum estudo conhecido sobre como o adjetivo é posicionado no português falado e até que ponto essa mudança de posição implicaria numa mudança de sentido (valor subjetivo vs. valor objetivo).

A gramática normativa (Cunha/ Cintra, por exemplo) prevê uma concordância em gênero (feminino, masculino) e número (singular/plural) para todos os elementos que fazem parte de um mesmo sintagma. Ou seja, adjetivos e artigos têm que se adaptar ao núcleo do sintagma.

Exemplo: “a casa bonita” – “as casas bonitas”.

O plural é realizado pelo acréscimo de “-s”, “-es”, “-eis”, etc, no final de cada palavra do sintagma de acordo com a sua terminação.

Ex.: “mês – meses”; “difícil – difíceis”.
Quando a concordância não é realizada, falamos em “não-concordância”. Esta pode ser de natureza verbal (ex.: “os meninos vai”) ou nominal (ex.: “as menina”). No português falado, em Portugal, ocorrem as duas formas de não-concordância. Porém a verbal foi observada com mais freqüência. Não se pode afirmar se a não-concordância varia de acordo com a classe social, idade, grau de escolaridade, sexo, etc. dos falantes.

No Brasil existem três tipo de concordância segundo Scherre (1998):
a) concordância total, onde, segundo a norma, todos os elementos do sintagma recebem a marcação do plural (ex.: “todas as pessoas iguais”);
b) concordância parcial, onde o último elemento não recebe a marcação do plural (ex.: “os lábios vermelhoø”);
c) não-concordância, onde somente o primeiro elemento do sintagma recebe a marcação do plural (ex.: “essas carneø vermelhaø”).
A não-concordância é um fenômeno que abrange falantes de diferentes classes sociais, sexo, idade, graus de escolaridade, etc. A diferença essencial é que, os falantes com maior grau de esolaridade conhecem as possíveis variantes e variam o seu uso de acordo com a situação em que se encontram. Em casa utilizam a não-concordância, enquanto que com desconhecidos utilizam a concordância total. Já os falantes com menor grau de escolaridade podem não ter aprendido as possíveis variantes, e como tal não variam o seu uso de acordo com o ambiente em que se encontram. Neste caso, utilizariam somente a concordância parcial ou a não-concordância.

Texto de Claudia Reichler (Protocolo do seminário "Português Falado", do dia 21.11.05. Para mais informações consultar seminário - 21.11.05 em
portuguesfalado.com.sapo.pt)

quarta-feira, dezembro 07, 2005

Português Falado: Linguística de corpora, corpora do português

À língua falada durante muito tempo não foi dada grande importância no sentido científico. Uma das poucas evidências da observação da língua falada ao decorrer da história é o “Appendix probi”, uma lista normativa com o objectivo de corrigir o latin falado, documentando a forma oral ao lado da forma escrita. Nos anos ciquenta do século passado a língua inglesa (falada) foi a primeira a ser documentada num corpus linguístico (SEU – Survey of English Usage), seguido pelo Brown Corpus nos E.U.A., e o corpus do Français Fondamental. Para o português existe o Corpus de Referência do Português Contemporâneo (CRPC), com 201 milhões de palavras do discurso oral e escrito.
No entanto, só se pode falar da linguística de corpora a partir dos últimos dez anos, em que o armazenamento e processamento de dados se facilitou imenso devido à micro-informática.

Definição de corpus:

De modo geral um corpus é uma colecção de fala, estruturada de maneira a que se possa consultar a qualquer altura e indeterminadas vezes.
As possibilidades de constituir um corpus são várias. Para melhor estruturação destas possibilidades distinguimos dois parâmetros, ambos variando entre dois casos extremos:

  1. Fonte / produtor do texto:
    Esta pode variar entre uma única fonte e todas as fontes possíveis.
  2. Tipo de texto:
    Este pode variar entre uma única palavra e todos os tipos de textos, todos os comentários alguma vez produzidos, sejam eles escritos ou orais.

Problemática no trabalho empirico – linguístico:

  1. Meta-problemática
    Alguns linguistas consideram empiricamente irrelevantes quaisquer juízos sobre a própria língua (língua materna) e até sobre comunicação em geral. (Hoje em dia, no trabalho de campo, em entrevistas, já não se recorre tão frequentemente à elicitação (eliciting), ou seja, não se pergunta directamente ao entrevistado como é que ele diz isto ou aquilo, optando-se por deixar o informante falar livremente, tentando criar uma situação comunicativa o mais natural e perto da realidade possível)
  2. Problemática da representatividade
    Qual o número de falantes nativos necessário para ter um corpus representativo? Chegará um falante nativo? Será ele representativo? Quanto mais falantes, mais representativo será o corpus?
  3. Problemática do uso correcto da língua
    Alguns linguistas defendem a ideia de que não há uma instância que tenha a capacidade de corrigir um falante nativo. Isto significará que este está livre de fazer erros na própria língua (posição da gramática descritiva). No entanto, a linguística de corpora necessita de termos normativos.

Tipologia dos corpora:

  1. “one-man” corpus (Bloomfield 1987)
    Corpus com uma única fonte, cuja língua, além de não apresentar variedade, não é alterada minimamente e é vista como representativa.

  2. O “sample”-corpus (John Sinclair 1982)
    Corpus exemplar, formado entre um a vários anos, com um volume aproximado de um milhão de palavras. Apesar de ter várias fontes e uma extenção de textos, o texto contínuo limita-se a 2.000 palavras, o que diminui a represesentatividade das palavras menos frequentes.
  3. O “monitor”-corpus (John Sinclair 1982)
    Corpus que tenta incluir tudo alguma vez escrito ou publicado. Embora ainda não haja um corpus desta dimensão, ja existem corpora de tamanho bastante elevado, semelhante ao do sample-corpus, com um volume até 25.000 palavras, o que já e uma aproximação razoável ao ideal de um “monitor”-corpus. Ao contrário dos outros corpora, este não é um corpus fechado e concluído, mas sim aberto e não-terminado uma vez que o objectivo é juntar todas as futuras publicações à sua base.

Texto de Denis Kaminke (Protocolo do seminário "Português Falado", do dia 14.11.05. Para mais informações consultar seminário - 14.11.05 em portuguesfalado.com.sapo.pt)

Português escrito vs. Português falado

A relação entre o português escrito e o português falado (europeu) continua um campo pouco explorado na área da linguística portuguesa.
A congruência morfológica e sintáctica entre a língua falada e a língua escrita no português europeu é bastante elevada (em comparação com o português do Brasil e outras línguas românicas). Também a nível diatópico, dada a homogeneidade da língua portuguesa e a influência dos meios de informação e socialização, são poucas as diferenças em relação ao português escrito. Divergências deste tipo entre a variante falada e escrita detectam-se maioritariamente nos usos informais da língua ou, por exemplo, no uso da linguagem calão.
Na língua portuguesa falada não é óbvia a herança diastrática, ou seja a classe social do falante. Certas partículas como “pá”, ao contrário do que era de esperar e apesar da sua marcação negativa, não se encontram somente no uso de falantes de nível baixo, mas sim a todos os níveis diastráticos.

Texto de Denis Kaminke (Protocolo do seminário "Português Falado", do dia 14.11.05. Para mais informações consultar seminário - 14.11.05 em
portuguesfalado.com.sapo.pt)